No final do ano de 1999 o mundo acordou finalmente para atroz realidade da fome no mundo, mercê das inúmeras notícias publicadas em jornais diários e veiculadas por todos os canais de

Todas as noites, nos países em vias de desenvolvimento quase 800 milhões de pessoas s e deitam com fome. Afirma o primeiro número do estado da Insegurança Alimentar no Mundo, publicado a 14 de

HOJE

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A cenoura é o vegetal mais importante dentro das Umbelíferas cultivares e está em 3º lugar (no ano 2000) no grupo dos sete vegetais mais importantes depois da couve e da cebola. (FAO)

A cenoura é uma fonte privilegiada de caroteno, vitamina B1, B6, P, PP, C e ácido fólico entre outros.

O seu consumo diário activa o organismo, promove o funcionamento do sistema imunitário, as capacidades físicas e intelectuais e regula o metabolismo (Gorovaya et alli, 2000)

É, por isso, importante a colheita de material para a introdução de novos caracteres nos programas de melhoramento.

Há vários anos que um vasto grupo de cientistas de todo o Mundo, coordenados pelo Professor Phillip Simon da Universidade de Wisconsin, vêm estudando este vegetal no sentido de melhorar algumas características como a cor, forma, resistência a algumas doenças comuns e outras qualidades menos óbvias como o sabor, textura e valor nutricional.

Na esperança de encontrar em Portugal matéria-prima para os seus programas de melhoramento e na tentativa de salvar as ultimas variedades de cenoura tradicionais, o Professor Phillip Simon, deslocou-se a Portugal no ano de 2001 tendo efectuado a primeira missão de colheita científica de Daucus no nosso país.

Em função de um acordo estabelecido entre a USDA (United States Department Of Agriculture) e o Banco Português de Germoplasma Vegetal, foi caracterizado, agronómica e morfologicamente, o material colhido e feita uma segunda colheita de Daucus em 2002.

Através da caracterização do material colhido em 2001, procuramos tirar algumas dúvidas em relação aos caracteres morfológicos e agronómicos distintivos entre as espécies e subespécies colhidas e com isso melhorar o seu conhecimento.

Com a segunda missão de colheita de Daucus tentamos aumentar a diversidade das amostras colhidas assim como preencher algumas falhas da anterior missão.

Destas acções dá conta o presente relatório.

Os estudos efectuados em Portugal, até agora, revelaram-se de extrema importância para um melhor conhecimento deste vegetal, por duas ordens de grandeza: Portugal possui abundantes espécies silvestres de Daucus e possui, pelo menos uma variedade tradicional de Daucus, de extrema importância para a saúde humana (cenoura roxa).

Portugal mostra-se, ainda, como uma área ideal para a colheita de espécies de género Daucus, mas com as mudanças na situação agrícola, os avanços do cimento e os incêndios, além das alterações climatéricas, urge alguma celeridade na recolha sistemática deste material genético, de forma a evitar a sua perda definitiva.

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A cenoura, aipo, salsa, cerefólio, funcho e numerosas outras plantas cujas partes comestíveis são as raízes, folhas ou sementes pertencem à família das Apiaceae ou Umbelliferae. O crescimento e o tipo de reprodução da cenoura são semelhantes ao de outras plantas desta família como o cerefólio e a salsa. Tendo sido há pouco tempo revistos (Rubatzky et al., 1999) estes aspectos da cenoura serão levemente evidenciados.

Morfologia e Crescimento

Uma variação de temperatura entre os 15ºC e os 25ºC, é considerada óptima para a colheita e desenvolvimento da cenoura.

A sua germinação não é homogénea (Salter et al., 1981; Gray, 1984) e o crescimento inicial lento.

O aumento de volume da raiz de armazenamento é mínimo até 6/8 semanas após a germinação, mas o potencial genético para o comprimento da raiz, será, na maior parte dos casos, estabelecido nas primeiras três semanas de crescimento (White and Strandberg, 1978). A cenoura comercial é uma raiz de armazenamento, constituída, principalmente, por tecido parenquimatoso secundário. O crescimento da planta continua até à colheita.

As primeiras verdadeiras folhas da cenoura emergem uma a duas semanas após a germinação e o alongamento dos entre-nós é mínimo durante a fase vegetativa.

A exposição das cenouras a temperaturas de 0ºC até 10ºC por períodos de duas semanas a dois meses induz o alongamento dos entre nós e a produção de flor em cenouras de regiões temperadas (Dickson and Peterson, 1958). Fotoperiodos que excedam as doze horas são, até certo ponto, impeditivos da indução floral considerando-se por isso a cenoura uma planta de “dias curtos” (Atherton e tal., 1990)

A cenoura é ainda considerada, em algumas zonas do globo, como uma espécie rústica, não necessitando de nenhuma irrigação, tendo mesmo um comportamento satisfatório na ausência de rega.

A cultura da cenoura é caracterizada pela grande amplitude do período de florescimento, o que leva à maturação desuniforme das sementes e, segundo Andrade et al. (1993), à diferenciação na sua qualidade fisiológica.

As sementes provenientes das umbelas primárias e secundárias possuem maior vigor que as provenientes das umbelas terciárias e quaternárias, sendo estas formadas mais tardiamente na planta da cenoura, possuem menor quantidade de compostos como citocininas e giberelinas, e são menores e mais leves, devido à prioridade na planta de sementes formadas nas umbelas primárias e secundárias (Gilberto Bevilaqua et al., 1997).

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Com a indução da floração, o meristema apical da cenoura fica mais levantado e com forma cónica, dá-se o alongamento dos entre-nós e inicia-se a formação das inflorescências (Umbela, Fig.2.1). A umbela primária é, em geral, a maior. Esta, mais várias dezenas de umbelas secundárias, terciárias e quaternárias, desenvolvem-se para produzirem mais de um milhar de flores por planta (Borthwick et al., 1931). As flores de uma umbela estão agrupadas em umbélulas e o desenvolvimento floral é protândrico, centrípeto e dura quatro a sete semanas.

 

Figura 2.1 – Umbela de Daucus carota, L.

 

As flores das cenouras (Fig. 2.2) são em geral perfeitas com um ovário inferior bilocular, com um óvulo funcional por lóculo. O ovário bilocular (Fig. 2.3) dá origem a um esquizocarpo (Fig. 2.4) que consiste de dois mericarpos, sendo cada um aquénio.

Figura 2.2 – Flor estaminada de Daucus carota, L.

 

                  

Text Box: Figura 2.3 – Flor perfeita depois da queda dos estames com ovário inferior.
 
Text Box: Figura 2.4 – Fruto de Daucus carota, L. (esquizocarpo).
 

 

 

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