No final do ano de 1999 o mundo acordou finalmente para
atroz realidade da fome no mundo, mercê das inúmeras
notícias publicadas em jornais diários e veiculadas por
todos os canais de televisão.
Cansados das notícias que se referiam a
acidentes, ataques bombistas, catástrofes naturais,
doenças infecto-contagiosas e guerras, que nunca
ultrapassavam a fasquia das centenas em número de mortos,
os media derrubaram o tabu da fome e ganhavam agora
audiência com a notícia
diária de mais de 24.000
pessoas mortas por dia de
fome ou doenças causadas pela fome, sendo 3/4 das mortes,
crianças abaixo dos 5 anos de idade. (fonte:
www.thehungersite.com )
Alguns canais de televisão passavam em rodapé, de forma
contínua, durante a emissão diária das notícias textos
deste tipo:
Os jornais colocavam diariamente em destaque o número de
mortos que a fome matava no mundo, naquele dia. Em segundo
lugar, informavam sobre mais um ataque bombista que teria
matado 12, um sismo de grande intensidade onde teriam
sucumbido 200 ou um acidente de aviação onde teriam
morrido todos os passageiros.
Os efeitos do furacão Mitch que varrera vários Países da
América Central em 1998, não tinham sido tão graves.
Só a segunda guerra mundial, que matou cerca 55 milhões de
pessoas em 4 anos, consegue suplantar esta dura realidade
que, no mesmo lapso de tempo, mata trinta e cinco
milhões de pessoas, em cada 4 anos!
Os Portugueses, conhecidos pelo seu forte sentimento de
solidariedade, começaram a inquietar-se com esta situação,
até então apenas do conhecimento de alguns e as acções de
recolha de alimentos para serem enviados para os países em
“via de desenvolvimento”, ocuparam várias organizações
nacionais e mobilizaram o país de Norte a Sul.
Os automóveis formavam filas.
Perto de tendas
estrategicamente montadas para tal efeito, crianças
felizes carregavam sacas de mantimentos, as quais
descarregavam, ajudadas pelos voluntários, em
contentores.
Infelizmente a maioria destes mantimentos nunca chegaria
àqueles a quem era destinada.
As organizações humanitárias queixavam-se da demora dessa
ajuda e muitas delas nunca receberam nada.
Guerrilheiros dos países de destino bem como os próprios
soldados do exército regular, desviavam essas ajudas em
benefício próprio.
Em Portugal colocavam-se velas em todas as janelas, em
memória dos mortos, o que emprestava ao País, visto do ar,
o aspecto de um imenso cemitério em dia de Fieis Defuntos.
Milhares de pessoas de mãos dadas, formaram imensos
cordões humanos em sinal de solidariedade.
Se as crianças, que motivavam todas estas acções, tivessem
conhecimento deste acto de solidariedade ficariam menos
infelizes, embora continuando com fome. Infelizmente elas
não souberam de nada. Mesmo que tivessem acesso a um
televisor, a maioria já não enxergaria nada devido à
cegueira.
Os Médicos sem Fronteiras e outras organizações
internacionais como a Cruz Vermelha, mobilizaram as suas
equipas que enviaram para o terreno na esperança de salvar
vidas através de medicamentos.
Hospitais de campanha, toneladas de medicamentos, soro e
uma panóplia de outros equipamentos tendentes a minorar os
efeitos da fome, foram enviados para os países mais
necessitados.
Mas estas medidas paliativas não logravam alcançar
resultados satisfatórios.
Os técnicos de saúde mais não podiam fazer senão adiar por
mais algum tempo os efeitos da fome crónica.
Foi então que um grupo de investigadores, coordenados pelo
BPGV,
decidiu lançar mãos à obra e apresentar aquilo que viria a
ser considerado mais tarde como “ O triunfo das
Umbelíferas”
Partiram de quatro conhecimentos gerais:
A fome matava por ano cerca de 26 milhões de crianças
A carência em vitamina A provocava a cegueira e a anemia.
Sabiam que uma cenoura por dia era suficiente para suprir
as necessidades de um ser humano em vitamina A e que ela
continha cerca de 20 Calorias além de outras vitaminas e
minerais, como o potássio, sendo ainda conhecida pelo seu
poder cicatrizante, diurético, remineralizante e sedativo.
Por outro lado sabiam que algumas espécies de cenoura
proliferavam nas bermas
das estradas portuguesas, por entre o alcatrão, as pedras
e noutros sítios impossíveis.
O projecto consistia em encontrar uma semente de cenoura
comestível que conseguisse resistir às condições mais
adversas incluindo a falta de água.
O tempo era escasso, havia que encontrar uma solução
urgentemente. Cada hora perdida significava a morte de
pelo menos mais 1.500 crianças.
A ansiedade era o sentimento dominante desta equipa
pioneira e empreendedora que, sem mais delongas, começou
as investigações animada por outro sentimento capaz de
derrotar todos os obstáculos: A Esperança.
Ao fim de dois anos de investigação no terreno, tinha sido
encontrada a semente com as características desejadas e,
entretanto tinham morrido mais de 25 milhões de crianças
por não terem nada para comer.
Tratava-se agora de promover a sua reprodução a ritmo
acelerado.
Em Janeiro de 2002, aviões da ONU “bombardearam” Angola, o
Sudão, a Etiópia e a Eritreia com as sementes oriundas de
Portugal.
As boas notícias chegaram em Maio desse mesmo ano. As
populações famintas arrancavam as primeiras plantas que
devoravam antes mesmo de chegarem a conhecer a cor das
suas raízes.
Outras, caídas em regiões mais inóspitas e em zonas
pedregosas, lograram sobreviver a esta ânsia
faminta e espalharam as suas sementes ao vento como uma
praga avassaladora.
Hoje, a Cenoura, qual maná caído do céu, invadiu todos os
caminhos germinando nas areias escaldantes e os pobres
mais não têm do que se vergarem para arrancar esta raiz
milagrosa que, sem ser uma panaceia, evitou que mais
crianças continuassem a morrer à fome.
Não resolveu tudo. Continua a haver má nutrição nestes
países, mas a mesma equipa já está a preparar um segundo
bombardeamento. Desta vez com sementes de Funcho. Outra
Umbelífera.
Entretanto, equipas de engenheiros agrários de vários
países Europeus foram já convidados para, enquadrados por
organizações internacionais como a
FAO
e apoiados pelos
governos dos respectivos países de origem, ajudarem os
agricultores locais no desenvolvimento de uma agricultura
sustentada.
Sinto-me feliz e realizada por ter participado nesta
investigação.
Ou será que foi apenas um sonho?
Se foi, por favor ajudem-me a torná-lo realidade, ou
então, deixem-me sonhar.
Marisa Mota
Topo
|