Todas as noites, nos países em vias de desenvolvimento quase 800 milhões de pessoas se deitam com fome. Afirma o primeiro número do estado d a Insegurança Alimentar no Mundo, publicado a 14 de

 
 

                           O Triunfo das Umbelíferas                  Voltar

 

No final do ano de 1999 o mundo acordou finalmente para atroz realidade da fome no mundo, mercê das inúmeras notícias publicadas em jornais diários e veiculadas por todos os canais de televisão.

Cansados das notícias que se referiam a acidentes, ataques bombistas, catástrofes naturais, doenças infecto-contagiosas e guerras, que nunca ultrapassavam a fasquia das centenas em número de mortos, os media derrubaram o tabu da fome e ganhavam agora audiência com a notícia diária de mais de 24.000 pessoas mortas por dia de fome ou doenças causadas pela fome, sendo 3/4 das mortes, crianças abaixo dos 5 anos de idade. (fonte: www.thehungersite.com )

Alguns canais de televisão passavam em rodapé, de forma contínua, durante a emissão diária das notícias textos deste tipo: “Mais uma criança morreu à fome, no tempo que você demorou a ler esta mensagem”

Os jornais colocavam diariamente em destaque o número de mortos que a fome matava no mundo, naquele dia. Em segundo lugar, informavam sobre mais um ataque bombista que teria matado 12, um sismo de grande intensidade onde teriam sucumbido 200 ou um acidente de aviação onde teriam morrido todos os passageiros.

Os efeitos do furacão Mitch que varrera vários Países da América Central em 1998, não tinham sido tão graves.

Só a segunda guerra mundial, que matou cerca 55 milhões de pessoas em 4 anos, consegue suplantar esta dura realidade que, no mesmo lapso de tempo, mata trinta e cinco milhões de pessoas, em cada 4 anos!

Os Portugueses, conhecidos pelo seu forte sentimento de solidariedade, começaram a inquietar-se com esta situação, até então apenas do conhecimento de alguns e as acções de recolha de alimentos para serem enviados para os países em “via de desenvolvimento”, ocuparam várias organizações nacionais e mobilizaram o país de Norte a Sul.

Os automóveis formavam filas. Perto de tendas estrategicamente montadas para tal efeito, crianças felizes carregavam sacas de mantimentos, as quais descarregavam, ajudadas pelos voluntários, em contentores.

Infelizmente a maioria destes mantimentos nunca chegaria àqueles a quem era destinada.

As organizações humanitárias queixavam-se da demora dessa ajuda e muitas delas nunca receberam nada.

Guerrilheiros dos países de destino bem como os próprios soldados do exército regular, desviavam essas ajudas em benefício próprio. 

Em Portugal colocavam-se velas em todas as janelas, em memória dos mortos, o que emprestava ao País, visto do ar, o aspecto de um imenso cemitério em dia de Fieis Defuntos.

Milhares de pessoas de mãos dadas, formaram imensos cordões humanos em sinal de solidariedade.

Se as crianças, que motivavam todas estas acções, tivessem conhecimento deste acto de solidariedade ficariam menos infelizes, embora continuando com fome. Infelizmente elas não souberam de nada. Mesmo que tivessem acesso a um televisor, a maioria já não enxergaria nada devido à cegueira.

Os Médicos sem Fronteiras e outras organizações internacionais como a Cruz Vermelha, mobilizaram as suas equipas que enviaram para o terreno na esperança de salvar vidas através de medicamentos.

Hospitais de campanha, toneladas de medicamentos, soro e uma panóplia de outros equipamentos tendentes a minorar os efeitos da fome, foram enviados para os países mais necessitados.

Mas estas medidas paliativas não logravam alcançar resultados satisfatórios.

Os técnicos de saúde mais não podiam fazer senão adiar por mais algum tempo os efeitos da fome crónica.

Foi então que um grupo de investigadores, coordenados pelo BPGV, decidiu lançar mãos à obra e apresentar aquilo que viria a ser considerado mais tarde como “ O triunfo das Umbelíferas”

Partiram de quatro conhecimentos gerais:

A fome matava por ano cerca de 26 milhões de crianças

A carência em vitamina A provocava a cegueira e a anemia.

Sabiam que uma cenoura por dia era suficiente para suprir as necessidades de um ser humano em vitamina A e que ela continha cerca de 20 Calorias além de outras vitaminas e minerais, como o potássio, sendo ainda conhecida pelo seu poder cicatrizante, diurético, remineralizante e sedativo.

Por outro lado sabiam que algumas espécies de cenoura proliferavam nas bermas das estradas portuguesas, por entre o alcatrão, as pedras e noutros sítios impossíveis.

O projecto consistia em encontrar uma semente de cenoura comestível que conseguisse resistir às condições mais adversas incluindo a falta de água.

O tempo era escasso, havia que encontrar uma solução urgentemente. Cada hora perdida significava a morte de pelo menos mais 1.500 crianças.

A ansiedade era o sentimento dominante desta equipa pioneira e empreendedora que, sem mais delongas, começou as investigações animada por outro sentimento capaz de derrotar todos os obstáculos: A Esperança.

Ao fim de dois anos de investigação no terreno, tinha sido encontrada a semente com as características desejadas e, entretanto tinham morrido mais de 25 milhões de crianças por não terem nada para comer.

Tratava-se agora de promover a sua reprodução a ritmo acelerado.

Em Janeiro de 2002, aviões da ONU “bombardearam” Angola, o Sudão, a Etiópia e a Eritreia com as sementes oriundas de Portugal.

As boas notícias chegaram em Maio desse mesmo ano. As populações famintas arrancavam as primeiras plantas que devoravam antes mesmo de chegarem a conhecer a cor das suas raízes.

Outras, caídas em regiões mais inóspitas e em zonas pedregosas, lograram sobreviver a esta ânsia faminta e espalharam as suas sementes ao vento como uma praga avassaladora.

Hoje, a Cenoura, qual maná caído do céu, invadiu todos os caminhos germinando nas areias escaldantes e os pobres mais não têm do que se vergarem para arrancar esta raiz milagrosa que, sem ser uma panaceia, evitou que mais crianças continuassem a morrer à fome.

Não resolveu tudo. Continua a haver má nutrição nestes países, mas a mesma equipa já está a preparar um segundo bombardeamento. Desta vez com sementes de Funcho. Outra Umbelífera.

Entretanto, equipas de engenheiros agrários de vários países Europeus foram já convidados para, enquadrados por organizações internacionais como a FAO e apoiados pelos governos dos respectivos países de origem, ajudarem os agricultores locais no desenvolvimento de uma agricultura sustentada.

Sinto-me feliz e realizada por ter participado nesta investigação.

Ou será que foi apenas um sonho?

Se foi, por favor ajudem-me a torná-lo realidade, ou então, deixem-me sonhar.

Marisa Mota                                                                                                                                Topo    

  © 2004 Marisa Martins Mota All rights reserved.